A partir da seguinte colocação contraponham as idéias apresentadas na
concepção inatista com as da concepção ambientalista. A base desta discussão
deve ser a colocação logo abaixo: "Na visão ambientalista, a atenção de
uma pessoa é função das aprendizagens que realizou ao longo de sua vida em
contato com estímulos reforçadores ou punitivos relativos aos seus
comportamentos anteriores. O comportamento é sempre o resultado de associações
estabelecidas\". O que acham disso?Façam comparações entre as duas concepções
e se possível apresentem novos exemplos.
INATISMO
A teoria inatista se
fundamenta em uma concepção de ser humano inspirada na
filosofia racionalista e idealista. O racionalismo se norteia pela crença de
que o único meio para se chegar ao conhecimento é por intermédio da razão, já
que esta é inata, imutável e igual em todos os homens. Para o idealismo, o real
é confundido com o mundo das idéias e significados. Dar realidade às idéias,
oferecer respostas ideais (de idéias) às questões reais ( Nunes, 1986, p. 25).
É a forma de compreender a realidade, na qual o espírito vai explicar e
produzir a matéria.
Enfatizando os fatores
maturacionais e hereditários, essa perspectiva entende que o ser humano é um
sujeito fechado em si mesmo, nasce com potencialidades, com dons e aptidões que
serão desenvolvidos de acordo com o amadurecimento biológico.
Uma vez que é dotado de dons
divinamente justificáveis, o ser humano, assim entendido, não tem possibilidade
de mudança, não age efetivamente e nem recebe interferências significativas do
social. Nada depois do nascimento é importante, visto que o homem já nasce
pronto, incluindo a personalidade, os valores, os hábitos, as crenças, o
pensamento, a emoção e a conduta social. O ser humano, concebido como biologicamente
determinado, remete a uma sociedade harmônica, hierarquizada, que impossibilita
a mobilidade social, embora o discurso liberal a afirme.
Nessa perspectiva temos uma
sociedade capitalista que valoriza o individual em detrimento do social,
gerando competitividade, acirrando as diferenças de classe, gênero e etnia.
O entendimento do
desenvolvimento é baseado no pressuposto de que, ao aprender, o ser humano
aprimora aquilo que já é inato avançando no seu desenvolvimento (o vir-a-ser).
É um passo na aprendizagem e dois no desenvolvimento. Há uma expectativa de que
o ser humano deixe desabrochar suas potencialidades e aptidões. A aprendizagem
depende do desenvolvimento.
Na educação o papel do
professor é o de facilitar que a
essência se manifeste, entendendo-se que quanto menor a interferência, maior
será a espontaneidade e criatividade do aluno. Essa concepção de homem tem
fundamentado pedagogias espontaneístas que subestimam a capacidade intelectual
do ser humano, na medida em que o sucesso ou fracasso é atribuído, única e
exclusivamente, ao aluno, ao seu desempenho,
aptidão, dom ou maturidade (Rego,
1996).
A aplicação dessa concepção
na educação gera imobilismo e resignação, pois considera-se que as diferenças
não são superadas, uma vez que o meio não interfere no desenvolvimento da
criança. Considera-se também que o resultado da aprendizagem é exclusivamente
do aluno, isentando de responsabilidade o professor e a escola. Assim, na educação, esta concepção tem erroneamente
levado a atitude de esperar que alunos “amadureçam naturalmente”, ou, mais
grave ainda, de não esperar muito daqueles que por herança genética ou cultural
não apresentam bom prognóstico. Afinal, se “filho de peixe peixinho é” e “pau
que nasce torto morre torto” mesmo, para que tentar?
AMBIENTALISMO
A concepção ambientalista de
ser humano está fundamentada na filosofia empirista e positivista. O empirismo
pressupõe que o conhecimento ocorre a partir da experiência sensorial e dela
deriva. O positivismo se baseia numa suposta harmonia do social, semelhante à
das leis naturais, entendendo que a criança é regida por leis do tipo natural.
A ciência, ao projetar objetividade e verdade, tenta se constituir como neutra,
negando todo o comprometimento ideológico que a perpassa. O cientista pretende,
em qualquer campo do conhecimento, agir com espírito objetivo, neutro, livre de
juízo de valor, de ideologia, tentando se omitir das contradições sociais.
No ambientalismo o ser
humano é considerado uma folha em branco, que será moldada pelos estímulos do
ambiente. O ser humano é produto do meio em que vive, do condicionamento que
recebe. O homem é concebido como um ser
extremamente plástico, que desenvolve
suas características em função das condições presentes no meio em que se encontra (Davis, 1990, p. 30).
A sociedade é aqui entendida
como meio ambiente organizado, que proporciona a experiência enquanto fonte de
conhecimento. As conseqüências de tal entendimento de ser humano e de sociedade
são a massificação de toda e qualquer diferença, anulando o individual em nome
de uma suposta harmonia social.
Para os ambientalistas, a
aprendizagem e o desenvolvimento ocorrem simultaneamente e podem ser tratados como sinônimos. Sob essa ótica, o
desenvolvimento é encarado como a acumulação de respostas aprendidas. As
respostas aprendidas, por sua vez, resultam em mudanças de comportamento,
desencadeando a aprendizagem.
Há supervalorização do
ensino, enquanto técnica a ser transmitida, pois uma vez que o ser humano é
considerado uma folha em branco, deve receber um número de informações
necessárias para desempenhar a sua futura função social. Utilizando-se de
técnicas eficazes, o professor pode estimular a reprodução de um conhecimento,
sem questioná-lo.
Na sala de aula ela [a
técnica] acarretou um excessivo diretivismo por parte do adulto. Deixou-se de
valorizar e fazer uso de situações onde a aprendizagem pode-se dar de modo
espontâneo, como aquelas onde as crianças cooperam entre si para alcançar um fim comum (Davis,
1990, p. 34).
Hoje ainda há resquícios de
uma abordagem ambientalista na estrutura educacional, seja através da
metodologia que privilegia a memorização, seja na própria organização escolar.
Ref.:
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