Para Henri Wallon
(1879-1962), o desenvolvimento não começa cognitivamente. A atividade da
criança está, a princípio, voltada para a sensibilidade interna (afetiva), que
abrange o primeiro ano de vida. Não se trata de um processo linear, no qual o
aspecto cognitivo pegará o lugar do afetivo.Há a indicação de conflito e
oposição permanente entre eles, alternando-se em fases centrípetas, ou seja,
voltadas para si mesmas e centrífugas, de interesse pelo mundo humano ou físico.
A elaboração do objetivo se faz pelo subjetivo e vice versa. Neste sentido,
você concorda ou discorda das considerações do autor, observando o tempo a qual
foi escrita e a significativa evolução no processo educativo que passam as
crianças. Argumente e fundamente seu valor.
Com certeza a tarefa
de educar demanda posturas e conhecimentos diferenciados da parte do professor,
pois ele desempenha o papel de mediador do processo escolar de aquisição da
cultura pelo aluno, e, portanto, de cultivador de aptidões. Desta forma, apresenta-se a nós uma tarefa
complexa, que requer habilidades e conhecimentos específicos, autoconhecimento
e conhecimento do universo social do professor e do aluno, para aí então tomar
decisões comprometidas com a constituição da pessoa do aluno.
O conhecimento do
desenvolvimento do aluno, das necessidades específicas de cada etapa, deve
pautar a prática pedagógica, que é uma intervenção nesse processo em
determinada direção, a ser feita de maneira consciente e responsável, em
consonância com valores morais e sociais, objetivos e metas educacionais.
Falar sobre infância e adolescência
representa, de início, uma dificuldade por serem elas, antes de mais nada,
construções culturais, situadas, datadas, cujas contraposições com o universo
do adulto podem ser diversificadas.
Para compreendermos a
criança e o adolescente de hoje, é útil compreendermos como esses conceitos,
desde a sua origem, evoluíram através dos tempos, chegando até nós. Necessário
também é procurar conhecer e compreender em que circunstâncias o referencial
teórico que norteia o nosso olhar foi produzido, para, ao analisá-lo, sermos
capazes de verificar o que precisa ser revisto e readaptado em função de
condições existenciais distintas daquelas em que a teoria foi produzida.
Além disso, faz-se
ainda necessário termos clareza dos pressupostos que norteiam a nossa visão de
criança e adolescente constituída ao longo de nossa trajetória pessoal, como
pessoas e sujeitos históricos. Conhecer esses pressupostos, a princípio, é tornar-se
capaz de redimensioná-los para maior adequação à realidade objetiva e às nossas
metas e objetivos como professores e, portanto, interventores no processo de
desenvolvimento de nossos alunos.
As
novas gerações levantam a necessidade de outra avaliação das relações
interpessoais e da relação com o conhecimento. Há necessidade de pesquisas
capazes de proporcionar uma melhor compreensão dessas relações, gerando bases
para novas práticas pedagógicas.
Costumamos ouvir dos
professores discursos sobre a importância de formarmos alunos conscientes,
cujos valores éticos e morais lhes possibilite exercer o papel de cidadãos.
Mas, como fazê-lo?
Acreditamos que a
teoria de Wallon, por seu forte lastro orgânico, o que a ancora nas aptidões
características da espécie, e por sua essência sociocultural relativista, é capaz de contribuir para a
compreensão do desenvolvimento das crianças e dos adolescentes de nossos tempos
e cultura, ao mesmo tempo em que suas idéias pedagógicas nos parecem bastante
adequadas ao tipo de escola capaz de atender aos interesses e necessidades de
nossos alunos da era digital.
Uma reflexão
extremamente relevante sobre as implicações da teoria de Wallon para a
educação, especificamente sobre o papel do professor, nos é apresenta por
Almeida (2000):
"Wallon,
psicólogo e educador, legou-nos muitas outras lições. A nós, professores, duas
são particularmente importantes. Somos pessoas completas: com afeto, cognição,
e movimento, e nos relacionamos com um aluno, também pessoa completa, integral,
com afeto cognição e movimento. Somos componentes privilegiados do meio de
nosso aluno. (p.86)"
Conseqüência da
presente interpretação da teoria e princípios wallonianos, é a concepção do professor como pessoa
completa e de seu papel como mediador da cultura de seu tempo e, portanto, um
cultivador das novas aptidões possibilitadas por ela.
Impõe-se-nos desta
forma uma importante questão: estaremos nós preparados para sermos mediadores
da cultura digital? Temos nós próprios,
professores-pessoas, desenvolvidas as aptidões próprias desta cultura?
Estamos aptos a exercer nosso papel como interventores no processo de
desenvolvimento de nossos alunos no sentido de promover a aquisição de
conhecimentos e valores adequados à formação do cidadão desta nova era?
Que tipo de formação
deve ser propiciada à pessoa do professor, para que, em seu encontro com a
pessoa do aluno ele seja capaz de desempenhar bem o seu papel de mediador da
cultura de seu tempo, que chamamos aqui de cultura digital, cultivando nele
aptidões compatíveis com ela, de forma que o ensino ministrado por ele seja uma
preparação suficiente para o exercício de qualquer função que poderá
oferecer-se mais tarde?
Temos pela frente
ainda um longo caminho a percorrer até que sejamos capazes de dar alguma resposta
a esta pergunta, mas acreditamos que para fazê-lo é necessário investir na
formação da pessoa do professor, principalmente na formação contínua,
considerando a sua experiência na escola, diante do aluno, lugar em que se
constitui professor. A este respeito nos diz Wallon (1975):
"A formação
psicológica dos professores não pode ficar limitada aos livros. Deve ter
referência perpétua nas experiência pedagógicas que eles próprios podem
pessoalmente realizar (p.366)"
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