terça-feira, 29 de novembro de 2011

Planejamento e Avaliação da Aprendizagem – Aula III


Avaliação da aprendizagem: aspectos conceituais

Levar o aluno a compreender a avaliação da aprendizagem como um instrumento de tomada de decisão visando à melhoria do processo ensino e aprendizagem; contrastar medida de avaliação da aprendizagem; e concluir que a avaliação tanto pode ser um instrumento de inclusão, de aprendizagem, quanto um instrumento de legitimação da exclusão, da seleção, do fracasso escolar são os objetivos desta aula.

Conceito de avaliação da aprendizagem

Com a intenção de elucidar o conceito de avaliação, trago uma definição tal qual o espanhol J. Gimeno Sacristan a concebe em El curriculum: uma reflexión sobre la prática e a expressa da seguinte forma:

A avaliação em geral é a expressão de um juízo por parte do professor, que pressupõe uma tomada de decisão, por elementar que seja, e que se apóia em distintos tipos de evidências ou indícios, coletados através de algum procedimento técnico quando é uma avaliação formal, ou por mera observação informal. (SACRISTAN, 1988, p. 377)

Nessa definição, percebe-se a existência de três momentos fundamentais no processo avaliativo:

• A coleta de informações, o diagnóstico da realidade.
• A expressão de um juízo de valor, ou seja, a qualificação da situação avaliada com base nos objetivos propostos.
• A tomada de decisão do professor.

Tomar decisão a partir do diagnóstico significa rever estratégias, reorientar o processo ensino aprendizagem, visando à correção das falhas cometidas.

Tem-se, então, que a avaliação não se caracteriza apenas por um procedimento de medida: a avaliação contempla a medida, mas nela não se encerra. É imprescindível, além da seleção dos instrumentos de avaliação, o diagnóstico a tomada de decisão, a retroinformação e o favorecimento do desenvolvimento dos alunos, ou seja, o favorecimento do alcance dos objetivos propostos.

Segundo Luckesi (1995, p. 76) “no cotidiano escolar, a única decisão que se tem tomado sobre o aluno tem sido a de classificá-lo num determinado nível de aprendizagem, a partir de menções”,ou seja, somente para classificar o aluno em aprovado ou reprovado.

As considerações do autor nos esclarecem para a não redução da avaliação como constatação dos erros, que na prática escolar tem sido vistos como culpa do aluno, portanto, passível de punição, de crítica, de castigos.

Ao classificarmos o aluno como bom, ótimo ou ruim, estamos reificando sua aprendizagem, apenas o rotulando, tornando o processo de aprendizagem que é dinâmico, em um ato estático.

Não cabe procurar culpados nesse caso, se a aprendizagem não aconteceu, faz-se necessário buscar as causas, identificar onde as perdas aconteceram, quais dificuldades de aprendizagem os alunos apresentam, e agir, visando solucioná-las.

Só assim a avaliação cumprirá sua função, considerando para isso, as etapas que serão apresentadas:

• Definição dos objetivos.
• Seleção dos instrumentos, adequados aos objetivos propostos.
• Diagnóstico – constatação e qualificação da realidade.
• Tomada de decisão.

Avaliação da aprendizagem: instrumento de inclusão ou de seleção escolar?

Inicio esse tópico com a seguinte questão reflexiva: ao longo dos seus anos de escolaridade, como você vem percebendo a avaliação?

• Como um instrumento de diagnóstico do processo ensino e aprendizagem, visando retomar conteúdos, explicações, possibilitando assim, o alcance dos objetivos.
• Ou como uma “arma” utilizada arbitrariamente a ameaçar o aluno, ou seja, como um instrumento disciplinador de normas e condutas escolares?

As discussões da avaliação não podem se limitar às dificuldades em uma determinada matéria ou conteúdo e envolvem todo o sistema educacional, inserido num sistema social determinado, onde observamos certos comportamentos, tais como, o individualismo, a falta de solidariedade, o consumismo. Valores estes que se reproduzem em sala de aula.

O individualismo e competição são tratados como naturais no que concerne à função da escola de preparar o aluno para a vida, ou seja, prepará-lo para a competição presente na sociedade. Conforme nos aponta Freitas.

Os procedimentos de avaliação estão, portanto, articulados com a forma que a escola assume como instituição social, o que, em nossa sociedade, corresponde a determinadas funções: hierarquizar, controlar e formar os valores impostos pela sociedade: submissão, competição, entre outros. (FREITAS, 2003, p. 46).

Diante do exposto, evidencia-se que a definição de por que, o que e como avaliar vincula-se a um conceito de planejamento coerente com a concepção de homem que se quer formar.
Gandim (1985) se coloca do seguinte modo acerca desse tema.

Tudo é decidido pelo tipo de sociedade que você pensa. Para ajudar a firmar uma sociedade verticalista onde uns podem, outros não; uns possuem, outros mendigam; uns decidem, outros obedecem; o que se faz em avaliação escolar é perfeito. Para contribuir com a construção de uma sociedade onde todos tenham bens necessários, possibilidades reais de consciência, participação real, a atual avaliação escolar deve ser extinta. (GANDIM, 1985, p. 16).

Conclui-se que a avaliação não tem um fim em si mesma, ela é uma categoria do campo educativo. Tanto pode atuar como um instrumento de inclusão, de aprendizagem, como um instrumento de seleção e legitimação do fracasso escolar.

O processo avaliativo não pode acontecer estanque do processo ensino e aprendizagem, ele deve ser contínuo, cumulativo e diagnóstico.

Muitos professores concordam com esses conceitos, mas o que se percebe é que em suas práticas pedagógicas, não chegam a desenvolver um processo avaliativo que respeite as heterogeneidades, os ritmos de aprendizagens dos alunos e as dificuldades individuais.
Souza (1994) relata a manifestação de um professor feita em um debate, seguida dos comentários:

• “Nós professores, já sabemos que a avaliação tem que ser processual tem que superar uma pedagogia de reprovação, possibilitar ao aluno seu próprio processo de aprendizagem. Mas e daí? Por que a gente não muda?

Prezados alunos repasso a vocês, como reflexão, os seguintes questionamentos: “por que a gente não muda”? Por que é tão difícil, mudarmos nossas práticas pedagógicas em sala de aula, incluindo, entre elas, o modo como praticamos a avaliação da aprendizagem? O que pensam acerca disso?

Agora, após refletirem sobre os questionamentos acima expostos, trago o comentário da autora acerca das indagações feitas pelo professor durante o debate:

A mudança na prática avaliativa implica em uma mudança de valores, para além de informações teóricas, da compreensão de uma “nova” concepção de avaliação, do aprimoramento de procedimentos e instrumentos de avaliação, da alteração do sistema de representação do julgamento (notas ou conceitos). Implica em ruptura com uma cultura avaliativa que está instalada na escola, comprometida com determinado projeto educacional e social (SOUZA, 1994. p. 59).

Trabalhar numa avaliação que se volte para a aprendizagem significa não fazer da punição, da classificação e do castigo a prática permanente da relação pedagógica, significa deixar de manter os alunos sobre a ameaça da reprovação, das notas baixas, do terrorismo.

Significa ambos – professor e aluno – compreenderem que o foco do processo ensino e a aprendizagem é a compreensão dos conteúdos e não a nota.

A nota é o reflexo, é o diagnóstico, o resultado da análise dos dados coletados, não pode ser o motivador para a aprendizagem, para a realização das atividades, para permanecer ou não na escola.

Para que isso de fato aconteça, o planejamento deve priorizar conteúdos relevantes, vinculados à realidade dos alunos.

Faz-se necessário também que professor e alunos permitam ser avaliados, permitam perceber seus erros e encará-los não como castigo, mas como parte do processo de aprendizagem, como forma de crescimento.

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