sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Tecnologia Aplicada ao Ensino – Aula VIII


O interacionismo social de Vygotsky

O objetivo dessa aula é apresentar uma nova concepção para a EaD numa perspectiva sócio-interacionista. Na sequência, discutiremos elementos que podem nortear o curso, as funções e a formação do professor-tutor.

O quadro social, no tocante ao aprendizado, deságua na formação profissional e apresenta, hoje, um desnível importante nos grandes centros urbanos e fora deles. Podemos dizer que hoje quase inexiste formação profissional fora desses grandes centros, o que pode ser apontado como um dos fatores para a exclusão social.

É nas relações entre o indivíduo e sociedade que o homem se desenvolve. Dentre as teorias da aprendizagem, uma que hoje que pode interpretar esse modo diferente de entender a educação, principalmente aquela com base na Educação a Distância, é a concepção interacionista. Assim, encontraremos em Vygotsky (Lev Semyonovich Vygotsky 1896-1934) o primeiro autor a chamar atenção para a importância do envolvimento ambiental no desenvolvimento da criança e no processo de formação da mente, em seu livro A Formação Social da Mente.

Isso traz uma implicação, porque o processo de formação mental passa a ser entendido de modo a comprometer o pedagogo com a observação dos pontos críticos de transformação dos indivíduos em pessoas maduras, na formação desses indivíduos pela interação social.

A metodologia empregada por Vygotsky não abre mão da relação entre teoria e prática, elas estão em constante interação. Suas teses são importantes para a ciência cognitivista, porque vão além das simplificações behavioristas, cuja teoria central aponta para o processo de desenvolvimento humano caber exclusivamente ao ambiente e não ao indivíduo. Para Vygotsky, a participação da criança e do instrutor no processo de aprendizagem enfatiza a importância de inserção social do indivíduo, em diversas fases do crescimento, assim, a mente depende do contato estreito com uma comunidade para seu efetivo desenvolvimento.

É preciso admitir que a interação do indivíduo com o meio define a constituição humana. Nessa perspectiva, o homem se apropria das experiências históricas e culturais, é alguém que transforma e é transformado nas relações produzidas em sociedade, é por isso que o pensamento de Vygotsky costuma ser chamado de sócio-interacionista.

O pressuposto primeiro da história da existência humana é que, na luta pela sobrevivência, é em torno do trabalho que o homem se organiza e estabelece relações entre si e com a natureza e torna-se capaz de modificar a natureza e, consequentemente, modificando-se a si próprio, criando novas condições para sua existência. Produzindo meios de vida, o homem produz sua própria vida material. Segundo Rego (2002:96-97), o homem é um ser social e histórico e a busca de satisfazer suas necessidades o leva a trabalhar e transformar a natureza, estabelecer relações com seus semelhantes, produzir conhecimento, construir sociedade e fazer história.

Um processo de formação continuada construído na concepção sócio-interacionista pode apresentar-se como uma alternativa para formação de professores tutores em EaD com uma formação compatível para enfrentar a demanda da prática, não do teórico. A formação do professor-tutor tem sido considerada elemento decisivo para o sucesso da iniciativa e permanência do aluno. Já há experiências positivas com essa perspectiva sócio-interacionista em EaD.

Partindo do pressuposto de fazer Educação – não ensino – a distância é que o papel da tutoria toma contornos importantes. Não há ainda um modelo como referencial de formação e de atuação nessa direção, o que temos, na prática, é uma tutoria alinhada com modelos de treinamento e instrução programada.

Diante disso, levantamos alguns elementos que poderão nortear um curso:

• Adotar mecanismos construcionistas, ou seja, ênfase na produção do aluno, no aproveitamento do seu conhecimento anterior, na troca de experiências como algo que dinamize a aprendizagem.
• Interação entre as pessoas no ambiente virtual, afastando a perspectiva meramente “instrucional”.
• Intercâmbio entre teoria e prática com aplicabilidade imediata dos conhecimentos adquiridos no curso.
• Troca de experiências entre colegas que vivenciam o mesmo tipo de dificuldade, em outros lugares trazendo aos alunos propostas produzidas por outros alunos.
• Dúvidas solucionadas nos fóruns, numa interação coletiva.

O professor-tutor deve ser capaz de desconstruir o paradigma tradicional de ensino para implantar o paradigma instaurando a figura de mediador que viabiliza a aprendizagem.

Assim, são funções do professor tutor:

• Permitir que o aluno trilhe seu caminho de construção de conhecimento com segurança.
• Oferecer oportunidade para o desenvolvimento da autonomia do aluno, bem como para a construção coletiva do conhecimento.
• Ser sensível aos aspectos que o aluno apresente maior dificuldade, desenvolvendo e apresentando situações que possam transpor essas dificuldades.

A formação do professor tutor deve estar alicerçada em três bases:

• A base dos conteúdos que são referentes à formação teórica: o professor-tutor deve ter uma formação sólida dos conhecimentos para que possa mediar a aprendizagem do aluno.
• A base das ferramentas de interação: o professor deve ser capacitado para o uso dos sistemas da EaD com o uso específico delas: fórum, email, atividades etc.
• A base dos mecanismos de comunicabilidade: o professor deve desenvolver sua linguagem, agora digital, de forma a torná-la mais clara percebendo a melhor forma de comunicar-se com cada aluno.

Para iniciar a conclusão

Fazendo uma comparação entre as atividades do professor na educação presencial e do tutor na educação a distância, temos:

- Educação presencial: conduzida pelo professor; processo centrado no professor; ritmo do processo ditado pelo professor.

- Educação a distância: acompanhada pelo tutor; processo centrado no aluno; ritmo determinado pelo aluno, dentro dos seus próprios parâmetros.

Assim, muda-se o foco do professor na EaD para tutor passamos, então, a entender o conceito do termo tutor, mais do que ensinar, trata-se de fazer aprender concentrando-se na criação, na gestão e na regulação das situações de aprendizagem.

O novo papel do professor-tutor, que deve atuar como mediador, facilitador, incentivador e investigador do conhecimento já indica uma mudança nas concepções tradicionais do ensino presencial, portanto não há como reproduzir nos ambientes virtuais esse ensino tradicional baseado simplesmente na transmissão do conhecimento.

O papel antigo de transmissor do conhecimento deu espaço ao papel do agente ativo "organizador, dinamizador e orientador da construção do conhecimento do aluno e até da sua auto-aprendizagem". (MACHADO, 2004)

Veja quais são as habilidades que o professor que deseja iniciar algum curso a distância precisa conhecer

De acordo com os autores, o professor que deseja iniciar algum curso a distância deve:

- Conhecer sua fundamentação pedagógica.

- Determinar sua filosofia de ensino e aprendizagem.

- Conhecer os alunos.

- Conhecer o ambiente on-line.

- Conhecer os recursos tecnológicos.

- Criar relacionamentos pessoais on-line.

- Definir regras para as aulas on-line e esclarecer suas expectativas sobre os papéis dos alunos.

As funções do professor-tutor passam pelas funções pedagógicas, função gerencial, função técnica e função social, sendo todas essas funções importantes para o sucesso da aula em EaD.

Modernamente, temos visto a importância de desenvolver a habilidade de ser um gerenciador no ensino-aprendizagem e termos desenvolvido conhecimento para tanto. Dessa forma, o sistema no ensino em EaD reúne, segundo Machado (2004), uma função tríplice: orientação, docência e avaliação. Para tanto, como dissemos, o foco, no mecanismo de aulas, muda para o aluno.

Para saber mais

Para saber mais sobre Vygotsky acesse o Centro de Referência Educacional:


Leia também: VYGOTSKY, L.S. Pensamento e Linguagem; trad. M. Resende. Lisboa: Antídoto, 1979.

Sobre tutoria na EaD

SOUZA et al. Tutoria na Educação a Distância. Disponível em: <http://www.abed.org.br/congresso2004/por/htm/088-TC-C2.htm> Acesso em: jun. 2009.

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