segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Avaliação Educacional – Aula II


Avaliação da aprendizagem: Instrumento de inclusão ou de seleção escolar?

Concluir que a avaliação tanto pode ser um instrumento de inclusão, de aprendizagem, quanto um instrumento de legitimação da exclusão, da seleção, do fracasso escolar.

Iniciamos este tópico com a seguinte questão reflexiva: ao longo dos seus anos de escolaridade, como você vem percebendo a avaliação?
  • Como um instrumento de diagnóstico do processo de ensino e aprendizagem, visando a retomar conteúdos, explicações, possibilitando assim, o alcance dos objetivos.
  • Ou como uma “arma” utilizada arbitrariamente a ameaçar o aluno, ou seja, como um instrumento disciplinador de normas e condutas escolares?
As discussões sobre a avaliação não podem se limitar às dificuldades em uma determinada matéria ou determinado conteúdo, envolvem todo o sistema educacional inserido num sistema social determinado em que observamos certos comportamentos; tais como o individualismo, a falta de solidariedade e o consumismo. Esses valores se reproduzem em sala de aula.

O individualismo e competição são tratados como naturais no que concerne a função da escola de preparar o aluno para a vida, ou seja, prepará-lo para a competição presente na sociedade. Conforme nos aponta Freitas:

Os procedimentos de avaliação estão, portanto, articulados com a forma que a escola assume como instituição social, o que, em nossa sociedade, corresponde a determinadas funções: hierarquizar, controlar e formar os valores impostos pela sociedade: submissão, competição, entre outros.” (FREITAS, 2003, p. 46).

Diante do exposto, evidencia-se que a definição de por que, o que e como avaliar vincula-se a um conceito de planejamento coerente com a concepção de homem que se quer formar.
Gandim (1985), acerca desse tema, posiciona-se do seguinte modo:

Tudo é decidido pelo tipo de sociedade que você pensa. Para ajudar a firmar uma sociedade verticalista onde uns podem, outros não; uns possuem, outros mendigam; uns decidem, outros obedecem; o que se faz em avaliação escolar é perfeito. Para contribuir com a construção de uma sociedade onde todos tenham bens necessários, possibilidades reais de consciência, participação real, a atual avaliação escolar deve ser extinta.” (GANDIM, 1985, p. 16).

Conclui-se que a avaliação não tem um fim em si mesma, ela é uma categoria do campo educativo. Tanto pode atuar como um instrumento de inclusão, de aprendizagem, como um instrumento de seleção e legitimação do fracasso escolar.

O processo avaliativo não pode acontecer estanque do processo ensino e aprendizagem, é contínuo, cumulativo, diagnóstico.

Muitos professores concordam com esses conceitos, mas o que se percebe é que em suas práticas pedagógicas, não chegam a desenvolver um processo avaliativo que respeite as heterogeneidades, os ritmos de aprendizagens dos alunos e as dificuldades individuais.

Souza (1994) relata a manifestação de um professor feita em um debate, transcrita a seguir, seguida dos comentários.

Nós professores, já sabemos que a avaliação tem que ser processual, tem que superar uma pedagogia de reprovação, possibilitar ao aluno seu próprio processo de aprendizagem. Mas, e daí? Por que a gente não muda?

Prezados alunos, repasso a vocês, como reflexão, os seguintes questionamentos: “por que a gente não muda”? Por que é tão difícil mudarmos nossas práticas pedagógicas em sala de aula, incluindo, dentre elas, o modo como praticamos a avaliação da aprendizagem? O que pensam acerca disso?

Agora, após refletirem sobre os questionamentos acima expostos, trago o comentário da autora acerca das indagações feitas pelo professor durante o debate:

A mudança na prática avaliativa implica em uma mudança de valores, para além de informações teóricas, da compreensão de uma “nova” concepção de avaliação, do aprimoramento de procedimentos e instrumentos de avaliação, da alteração do sistema de representação do julgamento (notas ou conceitos). Implica em ruptura com uma cultura avaliativa que está instalada na escola, comprometida com determinado projeto educacional e social.” (SOUZA, 1994. p. 59)

Trabalhar numa avaliação que se volte para a aprendizagem significa não fazer da punição, da classificação, do castigo a prática permanente da relação pedagógica; significa deixar de manter os alunos sobre a ameaça da reprovação, das notas baixas, do terrorismo.

Significa ambos – professor e aluno – compreenderem que o foco do processo ensino-aprendizagem é a compreensão dos conteúdos e não a nota.

A nota é o reflexo, é o diagnóstico, o resultado da análise dos dados coletados, não pode ser o motivador para a aprendizagem, para a realização das atividades, para permanecer ou não na escola.

Para que isso de fato aconteça, o planejamento deve priorizar conteúdos relevantes, vinculados à realidade dos alunos.

É necessário também que professor e alunos deem permissão para serem avaliados, para perceberem seus erros e encará-los não como castigo, mas como parte do processo de aprendizagem, como forma de crescimento.


Referência

FREITAS, Luiz Carlos de. Crítica da organização do trabalho pedagógico e da didática. Campinas, SP: Papirus, 1995. (Coleção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico)
_________. A internalização da exclusão. Educação e Sociedade, v. 23, nº 80, set. 2002.
_________. Ciclos, seriação e avaliação: confronto de lógicas. São Paulo: Moderna, 2003. (Coleção Cotidiano Escolar).
GANDIM, Danilo. Planejamento como prática educativa. São Paulo: Loylola, 1985.
_____________. Algumas idéias sobre avaliação. Revista de Educação AEC, Brasília, DF, nº 97, out. / dez. 1995.
GIMENO, S. J. El curriculum: uma reflexión sobre la práctica. Madri: Morata, 1988.

Nenhum comentário:

Postar um comentário