Avaliação
da aprendizagem: Instrumento de inclusão ou de seleção escolar?
Concluir
que a avaliação tanto pode ser um instrumento de inclusão, de aprendizagem,
quanto um instrumento de legitimação da exclusão, da seleção, do fracasso
escolar.
Iniciamos este tópico com a seguinte questão
reflexiva: ao longo dos seus anos de escolaridade, como você vem percebendo a
avaliação?
- Como
um instrumento de diagnóstico do processo de ensino e aprendizagem,
visando a retomar conteúdos, explicações, possibilitando assim, o alcance
dos objetivos.
- Ou
como uma “arma” utilizada arbitrariamente a ameaçar o aluno, ou seja, como
um instrumento disciplinador de normas e condutas escolares?
As discussões sobre a avaliação não podem se
limitar às dificuldades em uma determinada matéria ou determinado conteúdo,
envolvem todo o sistema educacional inserido num sistema social determinado em
que observamos certos comportamentos; tais como o individualismo, a falta de
solidariedade e o consumismo. Esses valores se reproduzem em sala de aula.
O individualismo e competição são tratados como
naturais no que concerne a função da escola de preparar o aluno para a vida, ou
seja, prepará-lo para a competição presente na sociedade. Conforme nos aponta
Freitas:
“Os procedimentos de avaliação estão, portanto, articulados com a forma
que a escola assume como instituição social, o que, em nossa sociedade,
corresponde a determinadas funções: hierarquizar, controlar e formar os valores
impostos pela sociedade: submissão, competição, entre outros.” (FREITAS,
2003, p. 46).
Diante
do exposto, evidencia-se que a definição de por que, o que e como avaliar
vincula-se a um conceito de planejamento coerente com a concepção de homem que
se quer formar.
Gandim
(1985), acerca desse tema, posiciona-se do seguinte modo:
“Tudo é decidido pelo tipo de sociedade que
você pensa. Para ajudar a firmar uma sociedade verticalista onde uns podem,
outros não; uns possuem, outros mendigam; uns decidem, outros obedecem; o que
se faz em avaliação escolar é perfeito. Para contribuir com a construção de uma
sociedade onde todos tenham bens necessários, possibilidades reais de
consciência, participação real, a atual avaliação escolar deve ser extinta.”
(GANDIM, 1985, p. 16).
Conclui-se
que a avaliação não tem um fim em si mesma, ela é uma categoria do campo
educativo. Tanto pode atuar como um instrumento de inclusão, de aprendizagem,
como um instrumento de seleção e legitimação do fracasso escolar.
O
processo avaliativo não pode acontecer estanque do processo ensino e
aprendizagem, é contínuo, cumulativo, diagnóstico.
Muitos
professores concordam com esses conceitos, mas o que se percebe é que em suas
práticas pedagógicas, não chegam a desenvolver um processo avaliativo que
respeite as heterogeneidades, os ritmos de aprendizagens dos alunos e as
dificuldades individuais.
Souza
(1994) relata a manifestação de um professor feita em um debate, transcrita a
seguir, seguida dos comentários.
“Nós professores, já sabemos que a avaliação
tem que ser processual, tem que superar uma pedagogia de reprovação,
possibilitar ao aluno seu próprio processo de aprendizagem. Mas, e daí? Por que
a gente não muda?”
Prezados
alunos, repasso a vocês, como reflexão, os seguintes questionamentos: “por que a gente não muda”? Por que é tão
difícil mudarmos nossas práticas pedagógicas em sala de aula, incluindo, dentre
elas, o modo como praticamos a avaliação da aprendizagem? O que pensam acerca
disso?
Agora,
após refletirem sobre os questionamentos acima expostos, trago o comentário da
autora acerca das indagações feitas pelo professor durante o debate:
“A mudança na prática avaliativa implica em
uma mudança de valores, para além de informações teóricas, da compreensão de
uma “nova” concepção de avaliação, do aprimoramento de procedimentos e
instrumentos de avaliação, da alteração do sistema de representação do
julgamento (notas ou conceitos). Implica em ruptura com uma cultura avaliativa
que está instalada na escola, comprometida com determinado projeto educacional
e social.” (SOUZA, 1994. p. 59)
Trabalhar
numa avaliação que se volte para a aprendizagem significa não fazer da punição,
da classificação, do castigo a prática permanente da relação pedagógica;
significa deixar de manter os alunos sobre a ameaça da reprovação, das notas
baixas, do terrorismo.
Significa
ambos – professor e aluno – compreenderem que o foco do processo
ensino-aprendizagem é a compreensão dos conteúdos e não a nota.
A
nota é o reflexo, é o diagnóstico, o resultado da análise dos dados coletados,
não pode ser o motivador para a aprendizagem, para a realização das atividades,
para permanecer ou não na escola.
Para
que isso de fato aconteça, o planejamento deve priorizar conteúdos relevantes,
vinculados à realidade dos alunos.
É
necessário também que professor e alunos deem permissão para serem avaliados,
para perceberem seus erros e encará-los não como castigo, mas como parte do
processo de aprendizagem, como forma de crescimento.
Referência
FREITAS,
Luiz Carlos de. Crítica da
organização do trabalho pedagógico e da didática. Campinas, SP:
Papirus, 1995. (Coleção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico)
_________.
A internalização da
exclusão. Educação e Sociedade, v. 23, nº 80, set. 2002.
_________.
Ciclos, seriação e
avaliação: confronto de lógicas. São Paulo: Moderna, 2003. (Coleção
Cotidiano Escolar).
GANDIM,
Danilo. Planejamento como
prática educativa. São Paulo: Loylola, 1985.
_____________.
Algumas idéias sobre
avaliação. Revista de Educação AEC, Brasília, DF, nº 97, out. /
dez. 1995.
GIMENO,
S. J. El curriculum: uma
reflexión sobre la práctica. Madri: Morata, 1988.
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