A
concepção de erro no processo avaliativo
Compreender
que a avaliação da aprendizagem não se encerra com a constatação dos erros;
concluir que no processo avaliativo, faz-se necessário agir sobre o erro:
compreender sua natureza, suas causas, suas origens e atuar, visando à correção
dele.
Erro:
seu significado na prática escolar
Para
Luckesi (1995, p. 48) ao erro tem sido atrelados a ideia de culpa, fracasso e
castigo. Dessa forma, o erro começa a ser encarado como algo desonroso e
proscrito.
E
o que é considerado erro?
Se
consultarmos um dicionário, encontraremos vários significados para o verbete
errar e todos com conotação negativa:
- Enganar-se.
- Falhar,
equivocar-se.
- Juízo falso,
engano.
- Desvio do
caminho considerado correto, apropriado.
- Inexatidão.
Na
prática escolar, em geral, o erro tem sido visto como prova do fracasso ou da
incapacidade do aluno, sendo passível de punição, crítica.
É algo que precisa ser evitado, corrigido; logo,
que se precisa ocultar. Os erros, a dúvida têm sido percebidos como ignorância,
falta de capacidade, preguiça, sendo, portanto, negados, camuflados por medo da
punição, exposição à execração. Fica uma preocupação mais com o que aparenta
ser do que com a aprendizagem.
Para poder corrigir os erros dos alunos, é
importante que o professor aprenda a identificá-los e, a saber, em que momento
do processo ensino e aprendizagem aconteceram. Só assim, poderá orientá-los
conforme sua necessidade no momento. Porém, para que ele “acerte mais”, é
preciso que tenha oportunidade de “errar”, sem ser castigado, punido.
Creio ser ilustrativa a situação que Luckesi (1995)
nos apresenta:
“Diz-se que
Thomas Edison fez mais de mil experimentos para chegar ao bem sucedido na
descoberta da lâmpada incandescente. Conta seu anedotário biográfico que, após
muitos experimentos mal sucedidos, um seu colaborador quis desistir do
empreendimento e Edison teria comentado: “Por que desistir agora, se já sabemos
muitos modos de como não fazer uma lâmpada? Estamos mais próximos de saber como
fazer uma lâmpada”. Os insucessos foram, assim, servindo de trampolim para o
sucesso de sua busca. O insucesso, neste contexto, não significa erro; ao
contrário, serve de ponto de partida para o avanço na investigação ou na busca
da satisfação de uma necessidade prática utilitária.” (LUCKESI, 1995, p. 56
– 57)
É
sabido que o erro faz parte do processo de aprendizagem, tem um lugar
importante na construção do conhecimento. Porém, não se deve confundir erro com
negligência, falta de compromisso, irresponsabilidade, desatenção. Não podemos,
como professores, aceitar a negligência ou o descuido naquilo que se ensina, no
modo como se ensina e também, por parte do aluno, no modo como se aprende, ou
seja, a falta de compromisso com o aprendizado, com a profissão que mais tarde
exercerá. O erro sim, esse ocorrerá.
Luckesi
(1995) nos alerta para o entendimento de que não significa “buscarmos” os
erros, a “apologia do erro”. Significa sim, percebermos que apesar das
orientações, explicações do professor, o aluno comete erros e que eles não
sejam percebidos como “fonte de castigo”, mas como “fonte de virtude”, de
crescimento, de aprendizagem.
Na
prática avaliativa, ao deparar-se com uma situação de erro, o professor é
instado a culpar o aluno e puni-lo com uma nota baixa, sem fazer as correções
do processo, dos erros cometidos, permanecendo o aluno na mesma situação em que
se encontrava, agora com o estigma de incompetente.
A
relação entre erro e nota baixa também tem tirado da escola a responsabilidade
no que se refere ao não aprendizado do aluno. Sobre essa ideia aborda
Vasconcelos:
“O que fundamenta a ênfase na nota é a idéia
de que nem todos são capazes de aprender, nem todos merecem continuar, pois,
embora tendo “igualdade de oportunidade”, não souberam aproveitar ou não têm,
de fato, condições para tal, cabendo à escola a tarefa de identificar uns e
outros e dar encaminhamento merecido.” (VASCONCELOS, 1995, p. 61)
A avaliação, nesse contexto, tem atribuído somente
ao aluno a responsabilidade pelo seu fracasso escolar, ocultando a função
seletiva e de submissão atribuídas à escola. Assim apresentada, a avaliação tem
se distanciado de sua função, em se tratando do diagnóstico do processo ensino
e aprendizagem, na busca do seu contínuo aprimoramento. Ela funciona como um
instrumento disciplinador, servindo para se obter o silêncio aparente e como
“motivador artificial” para a aprendizagem, visto que o aluno estudará por
temer a nota baixa e não motivado em aprender.
A seguir, um texto que provoca nossa reflexão
acerca da função do erro no processo avaliativo e as correções feitas por parte
dos professores, orientadas por modelos previamente definidos:
“REVOLTADO OU CRIATIVO
Há algum tempo, recebi um convite de um colega para
servir de árbitro na revisão de uma prova. Tratava-se de avaliar uma questão de
física, que recebera nota zero. O aluno contestava tal conceito, alegando que
merecia nota máxima pela resposta, a não ser que houvesse uma “conspiração do
sistema” contra ele. Professor e aluno concordaram em submeter o problema a um
juiz imparcial, e eu fui o escolhido.” (SETZER,
apud, MORETTO,
2003, p. 97- 99)
O
texto nos convida à reflexão sobre o processo avaliativo e sobre a forma como
os erros dos alunos são corrigidos e percebidos.Todos têm de expressar a mesma
resposta, no mesmo espaço de tempo. Sem considerar os ritmos de aprendizagem,
as dificuldades individuais.
Esse
autoritarismo da escola e explicitado nas correções dos erros dos alunos por
parte do professor é uma prática que vem transformando alunos críticos,
autônomos em indivíduos submissos e passivos diante dos problemas sociais,
obedientes às imposições da sociedade.
O
que se evidencia é que a escola, em vez de tornar os conteúdos de ensino mais
significativos e interessantes para os alunos, os apresenta a partir de
expectativas que não levam em consideração as características dos alunos como
grupo social, agindo assim, como instrumento de exclusão dos alunos pobres, já
excluídos socialmente, pois são eles que mais se distanciam das regras e normas
e a forma como os conteúdos são apresentados pela escola. Sob uma aparente
exclusão técnica, realiza-se uma seleção social, atingindo profundamente a
autoimagem dos alunos, que levarão consigo a falsa percepção de que fracassaram
porque são de fato incompetentes e, portanto, não merecem mais do que têm.
Luckesi
(1995) faz uma distinção entre julgamento e avaliação, diz que na avaliação não
há seleção, não há exclusão. Ele a define como um “ato amoroso”, não no sentido
piegas, mas sim no sentido de acolher a situação tal qual ela se apresenta
para, a partir daí, tomar decisões visando a melhorá-la. Avaliação é, portanto,
um ato acolhedor, integrativo, inclusivo e que tem por objetivo reincluir o
educando pelos mais variados métodos, no processo de aprendizagem, facilitando
assim, seu pleno desenvolvimento.
Indicação
de Sites
Acesse
o texto na íntegra. Disponível em:
<http://saci.org.br/index.php?modulo=akemi¶metro=1933>. Acesso
em: 1 jun. 2010.)
Referência
LUCKESI,
Cipriano Carlos. Avaliação
da aprendizagem escolar: estudos e proposições. 2. ed. São Paulo:
Cortez, 1995.
MORETTO,
Vasco Pedro. Prova – um
momento privilegiado de estudo – não um acerto de contas. 3. ed.
Rio de Janeiro: DP&A. 2003.
PINTO,
A. L. G. A avaliação da
aprendizagem: o formal e o informal. Campinas, SP. 1994.
Dissertação (Mestrado em Educação). Faculdade de Educação, Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP).
PINTO,
Neuza Bertoni. O erro como
estratégia didática: estudo do erro no ensino da Matemática
elementar. Campinas, SP: Papirus, 200. (Série Prática Pedagógica).
VASCONCELOS,
Celso. Algumas observações
sobre a mudança na prática da avaliação. Revista de Educação AEC,
Brasília, nº 94, p. 87 – 97, jan./mar. 1995.
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